domingo, 3 de julho de 2011

GENE CONTRA O ENFARTE

Se um dia tiver um enfarte, Hippo, Warts, Merlin, Yorkie, Scalloped, Shaggy, Frizzled, Dishevelled e Mob-as-tumor-suppressor podem ter muito a ver com o porquê de não se recuperar rápido. Esses não são personagens de uma história de Damon Runyon, mas um grupo de genes que trabalham juntos para ativar e desativar outros genes. Uma equipe de biólogos, liderada por James F. Martin e Todd Heallen do Texas A&M System Health Science Center, descobriu que tais genes impedem o coração de produzir novas células de músculos do coração, pelo menos em ratos.



 



Nocauteie o Hippo, por exemplo, e o coração do rato crescerá duas vezes e meia maior que o normal, relatam na Science. Este e outros avanços, incluindo a descoberta deste ano que filhotes de ratos podem regenerar seus corações nos sete primeiros dias após o nascimento, estão despertando um interesse considerável em meio a pesquisadores que tentam desenvolver novos tratamentos para enfartes. As descobertas “marcarão o renascimento do interesse na genética de controle de crescimento de músculos cardíacos, devido à sua potencial aplicação terapêutica”, disse Michael D. Schneider, especialista em biologia do coração no Imperial College em Londres.

A razão pela qual ataques cardíacos são tão sérios é o grande número de células de músculos cardíacos que morrem e não são repostas. Contudo, o coração lentamente gera novas células musculares durante a vida de uma pessoa, mostrando que um programa de crescimento existe. É, entretanto, fortemente reprimido, supostamente para evitar o perigo de câncer. Cirurgiões tentaram injetar células-tronco de todos os tipos em corações infartados, porém apesar de muitas tentativas clínicas, há pouca evidência de que células ajudem muito. Esse revés levou a um interesse renovado em tentar destravar o inerente programa de crescimento de células cardíacas.

Martin começou com o gene Hippo, pois é conhecido por regular o tamanho de órgãos de moscas drosófilas. Biólogos de drosófilas são frequentemente os primeiros a identificar novos genes e descobrir o que fazem. Os nomes que conferem aos genes são lúdicos e normalmente grotescos por se inspirarem no que acontece com a mosca quando se desativa um gene específico de seu genoma. Se o gene Hippo for apagado, a mosca fica com a cabeça enorme e com pele dobrada em torno do pescoço. Por isso, Hippo. Ao manipular um rato no qual o Hippo fora anulado apenas no coração, a equipe de Martin mostrou que a cadeia de genes na qual o Hippo age atende pelo menos uma das restrições naturais da proliferação de células de músculos do coração. O peixe-zebra pode regenerar a ponta do coração quando é cortada.



Pesquisadores descobriram recentemente que peixes podem até repor o tecido de cicatriz quando células musculares morrem, o que é normalmente um problema para corações humanos falhos. A descoberta que filhotes de ratos também podem regenerar o coração significa que mamíferos, talvez pessoas, podem também ter essa habilidade, ainda que seja perdida em adultos. Se o rato e o peixe-zebra têm uma forma natural de escapar do travamento do gene Hippo na produção de células cardíacas, é possível que alguma droga possa ser desenvolvida para interromper a ação do Hippo por alguns dias após um enfarte, permitindo que células de músculos cardíacos desfrutem de tão necessitado fluxo de proliferação.
 
 
 
Martin disse que seu próximo passo seria criar ratos adultos com o gene Hippo desabilitado e observar se eles se recuperam mais rapidamente após um enfarte. Ele também planeja ver se células de músculos do coração cultivadas em laboratório proliferam melhor se a ação do Hippo for interrompida. Em drosófilas, um órgão pode produzir mais células se dois promotores de genes, chamados Yorkie e Armadillo, conseguirem penetrar o núcleo da célula e ativar os conjuntos de genes necessários para células crescerem e se dividirem. Todavia quando o Hippo está ativado, nem o Yorkie, nem o Armadillo conseguem fazer seu trabalho.
 
 
 
O sinal que ativa o Hippo na mosca chama-se Dachsous, o qual deve primeiro engatilhar uma proteína receptora denominada Fat na superfície celular. Entretanto, receptores como o Fat podem responder a sinais muito diferentes. Então ainda não está claro que o rato, ou as contrapartes humanas para o Dachsous e o Fat, são os gatilhos para o efeito que a equipe de Martin observou, disse Schneider.
 
 
 
Se as contrapartes humanas forem identificadas, então a droga que bloqueá-las, desativando o Hippo, pode levar células do músculo cardíaco a se regenerarem, guiando a um tratamento novo e fundamental para ataques cardíacos. Mas Hippo, Warts, Merlin e outros não seriam parte da história. Quando pesquisadores de ratos procuram as contrapartes de drosófilas em ratos, eles lhes dão nomes novos e mais bobos. Geneticistas de humanos são ainda mais temerosos de que nomes lúdicos de genes criarão uma aura de frivolidade que desencoraja a doação de dinheiro. “Esses nomes arruínam tudo”, afirmou Martin. O gene que biólogos de moscas chamam de Menage-a-trois 1 é denominado MAT-1 por geneticistas de humanos. O poeticamente denominado Son-of-Sevenless em moscas é o prosaico SOS-1 em pessoas. Quanto a Hippo, pesquisadores de ratos já o descoloriram para MST-1.


Alccy Marthins