Eles têm 20 e poucos anos, cantam um sertanejo pop com refrões fortes e já sabem se esquivar das comparações com Luan Santana. Após o sucesso do “meteoro da paixão” sul-mato-grossense, novidades do estilo começam a ser disputadas por gravadoras. Ou a fazer sucesso sem o apoio delas. Sucesso em Campo Grande (MS), Adriano, de 19 anos, forma público com shows em praças lotadas por até 50 mil fãs e em colégios na cidade de Luan.
Ele é chamado de Justin Bieber do Pantanal, por causa da franja. “Tem um lado bom... Muita gente não me conhece direito, mas fala ‘é aquele guri que parece com o Justin’. Meu cabelo é assim mesmo, só dou uma secada e deixo normal. Sem frescura”, explica Adriano. Além do cabelo, há um pedaço do show que nada lembra o conterrâneo famoso. “Faço street dance. O pessoal fica olhando, acha estranho. Eles demoram, mas entendem. Dançamos um som eletrônico”, conta.
Artur Felipe não tem a mesma franja do rival. A aposta do simpático estudante de Engenharia Civil de 18 anos é a parte instrumental de candidatos a hits como "Vacilei" e "Gatinha, parei na tua". Ele começou a tocar violino com oito anos e aprendeu sax com 12. Só depois se encantou por violão, viola e guitarra. Nas apresentações, lotadas há seis meses, toca um pouco de cada instrumento. “Há uns dois anos, fazia só festa junina, sem cobrar nada. Agora, as músicas passaram a ser pedidas nas rádios, passamos a comprar equipamentos. Os fã-clubes foram aumentando”, comemora o garoto, que também é de Campo Grande.
É um fenômeno basicamente musical, o sertanejo está menos regional e mais pop. Eles são hoje a verdadeira música pop do Brasil, saíram do núcleo puramente sertanejo. Usam uma linguagem urbana, boas melodias, cantam músicas divertidas que atingem um público muito maior". Marcelo Soares, diretor-geral da Som Livre. Artur concentra seus esforços em dez shows por mês divididos principalmente entre Mato Grosso do Sul e Paraná. Para ele, quase todos seus fãs gostam de Luan. “Ele é um cara bom, tem animação e domina o público”, enaltece. “Eu tento sair um pouco da pegada dele, quero fazer do meu jeito.
Dou mais importância para o instrumental com arranjos de cordas, saxofone”, diferencia Artur. Um dos ídolos é o violinista holandês André Rieu. “Tento mesclar o sertanejo com música erudita”, resume. Algumas das tentativas estão no primeiro CD, que teve 50 mil cópias distribuídas de forma independente em apresentações. O paulista Léo Rodriguez, 20 anos, acabou de lançar a estreia “Atmosfera”, via Sony Music.
O rapaz de Descalvado (SP), cidade com 30 mil habitantes, gravou músicas por conta própria em 2009 e subiu vídeos no YouTube. “Fui para São Paulo com 15 anos, trabalhando como funcionário na empresa que hoje gerencia minha carreira, que é do meu tio Silvio Rodrigues”, lembra. Começou, então, a estudar violão em uma escola ao lado do escritório. Foi por causa da internet que ele mudou o sobrenome. “Troquei por causa do domínio do site. Já estava registrado Léo Rodrigues com ‘s’. Passei a usar Léo Rodriguez com ‘z’. Ficou legal com a logomarca também”, justifica.
Para escolher músicas de outros compositores, diz que “procura o que é comercial”. O primeiro hit é “Atmosfera” e remete ao “meteoro” de Luan não só pela parte musical, mas pela temática da letra. “Até passou pela minha cabeça [a similaridade]. Mas foi naturalmente. Não foi colado do Luan. A música é boa e tem um refrão muito forte. Cada um tem uma identidade. Os arranjos são diferentes, os timbres de voz diferentes.”
Mais avesso ao pop do que seus colegas, Dablio Moreira interpretou Zezé di Camargo no filme “Dois filhos de Francisco” (2005). Com disco pela Universal, o goiano de 23 anos cita artistas dos anos 90 ao falar de influências. Embora o CD seja voltado para sertanejos de "beats" acelerados, há versão enxuta de “No dia em que saí de casa”, que cantou no filme. “Muitos conheceram essa música com a minha voz. Não vou agradar só a meninada, quero conquistar os pais da molecada, os avós. Mas não vou ser sempre ‘o menino que fez o filme’. O tempo passou, a poeira baixou. Só sou ator para poder ser cantor”, esclarece. “Às vezes, você escreve música e enche linguiça. Tem que lapidar, ir direto pro refrão”, ensina.
Executivos aprovam nova safra
Marcelo Soares é diretor-geral da Som Livre, gravadora que impulsionou a carreira de Luan Santana e hoje também investe em Gusttavo Lima, mineiro de 20 anos que tenta pegar carona na cauda do “meteoro da paixão”. “É um fenômeno basicamente musical, o sertanejo está menos regional e mais pop”, atesta Soares. “Eles são hoje a verdadeira música pop do Brasil, saíram do núcleo puramente sertanejo. Usam uma linguagem urbana, boas melodias, cantam músicas divertidas que atingem um público muito maior.”
Para o executivo, Luan é o maior artista pop do Brasil. “Ele tem uma enorme base de fãs em todas as faixas etárias e classes sociais. É ídolo de famílias. O Gusttavo está em um momento diferente de carreira, em grande ascensão. Eles compartilham uma parte do público e também têm fãs radicais que preferem só ouvir seu ídolo”, diferencia Soares.
Bruno Baptista, gerente do departamento artístico da Sony Music, reconhece a força de cantores recém-saídos do colégio para o sertanejo. “Existe um público jovem que se identifica. É natural buscar artistas que atendam a essa fatia de mercado”, explica Baptista. “A música sertaneja atual está mais próxima da música pop, tanto musicalmente quanto em imagem e comportamento. A sonoridade se aproxima do pop rock mantendo as raízes e suas origens sertanejas”, confirma Daniel Silveira, gerente artístico da Universal.
Alccy Marthins