domingo, 22 de abril de 2012

LUMA ANDRADE PRIMEIRA TRAVESTI COM DOUTORADO DO BRASIL



Luma Andrade (Foto: Luma Andrade/Arquivo Pessoal) 
Luma Andrade escreve tese sobre discriminação nas escolas 
(Foto: Luma Andrade/Arquivo Pessoal)



Mesmo na infância em Morada Nova, a 163 km de Fortaleza, a discriminação não foi barreira para a cearense Luma Nogueira de Andrade, que nasceu com o nome de João. Filha de agricultores analfabetos, ela resolveu abrir caminhos e enfrentar a pobreza e o preconceito com o conhecimento. Aos 35 anos, Luma será em julho a primeira travesti a apresentar uma tese de doutorado no Brasil. “Canalizei toda a energia para os estudos e, assim, fui conquistando respeito de todos. Busquei no estudo uma alternativa de vida melhor”, diz.



A doutoranda em Educação pela Universidade Federal do Ceará (UFC) estuda a realidade de travestis nas escolas. Nas páginas da tese, ao relatar casos de estudantes que vivem situações de aceitação ou total repressão, Luma faz um paralelo com a própria história.



A cearense conta que, nas primeiras séries escolares em Morada Nova, chegou a ser agredida por outros alunos por “ser diferente e sempre preferir brincar com as meninas”. “Uma vez, quando cheguei na sala de aula chorando, ouvi da professora: 'Bem feito. Quem mandou você ser assim?' ”, recorda. O menino João não se sentia bem para ir ao banheiro masculino e não podia frequentar o feminino. “Sentia dores abdominais porque preferia não ir ao banheiro. Muitas vezes, saia correndo para casa quando terminava a aula para urinar”, conta.



Superação
Em vez de desistir de assumir quem era ou se rebelar, Luma repetia para si mesma: “Eu vou superar isso”. E, assim, foi vencendo o preconceito dos alunos e professores, sendo sempre o destaque da turma. “A estratégia era eu ser a melhor aluna. Eu fazia um acordo, eu ajudava, dava aulas particulares e eles me aceitavam”, diz. Aos 18 anos, quando passou no vestibular na primeira tentativa para o curso de Ciências da Universidade Estadual do Ceará (Ceará), no campus de Limoeiro do Norte, os olhares de reprovação por se vestir com roupas femininas e estar maquiada não diminuíram. “Eu me enganei. Na faculdade, eu sofri tanto quanto na educação básica”.



Por entender as dificuldades de ser diferente, eu me identificava muito e me aproximava dos alunos. Muitos deles, de alguma forma, se viam diferentes" Luma Nogueira de Andrade, doutoranda em Educação. De cabelos compridos, mas ainda assinando como João, Luma voltou para a sala de aula. Dessa vez, como professora de Ciências da Natureza. “No primeiro dia, os diretores da escola ficaram atrás da porta para observar como eu dava aula”, lembra. Ao contrário do que pensavam, a professora era uma das mais queridas e reconhecidas pelo ensino. “Por entender as dificuldades de ser diferente, eu me identificava muito e me aproximava dos alunos. Muitos deles, de alguma forma, se viam diferentes”, conta.



Em 1998, Luma Andrade passou para concurso de professor efetivo da rede municipal de Morada Nova e também começou a ensinar em escolas estaduais e particulares. Quando passou no Mestrado em Desenvolvimento do Meio Ambiente em Mossoró, no Rio Grande do Norte, apesar de ser vista por colegas de trabalho com “mau exemplo”, não abriu mão de continuar a ensinar e pediu transferência para uma escola de Aracati, município mais próximo de onde estudava.



Com o título de mestre, em 2003, ela prestou concurso para a rede estadual de ensino de Aracati e, de quatro vagas, foi a primeira e única aprovada. Na hora de ser lotada, os diretores disseram que não havia vagas e Luma teve de pedir a intervenção da Secretaria de Educação do Estado (Seduc) para assumir o cargo. Em Aracati, Luma passou a dar palestras e aulas de cursinho pré-vestibular e desenvolveu, em 2005, o projeto “Intimamente Mulher” que incentivava alunas e professoras a fazer exames de prevenção. A iniciativa ganhou o primeiro lugar no Estado e Luma recebeu o prêmio no Ministério da Educação.




Mesmo com reconhecimentos e títulos, a educadora continuava encontrando discriminação. Ao colocar próteses de silicone nos seios, a travesti conta que foi enviada uma denúncia à Secretaria de Educação. “Eles diziam que estava mostrando os seios para os alunos, mas provei que não era verdade. Ia até com uma bata para não chamar atenção”. Em 2007, passou em uma seleção e mudou-se para Russas para ser supervisora de 26 escolas estaduais em 13 municípios do Ceará. No cargo, a travesti pode acompanhar e ajudar mais de perto as histórias de outras “Lumas” agredidas na escola ou em casa. “Eu via nelas eu mesma. Toda a dificuldade que passei”.



Mudança de nome

Aos 33 anos, Luma ainda tinha nos documentos o nome de João Filho Nogueira de Andrade. No dia da mulher de 2010, ganhou o presente de ser a primeira travesti a ter o direito de mudar os documentos sem a operação de mudança de sexo no Ceará. As histórias de vitórias e de superações que já chamaram atenção de cineasta e políticos não vão parar. Luma não se cansa de seguir e abrir os caminhos em defesa da diversidade humana. “Quero combater todo o preconceito. Cada passo que eu dou, cada degrau que eu subo, sei que estou contribuindo para mudar pessoas e não posso deixar de buscar novos espaços. A própria travesti pensa que não existe outro caminho sem ser a prostituição”, afirma.




Alccy Marthins



URUOCA MUNICÍPIO NO CEARÁ ENTREGA BICICLETAS AOS ESTUDANTES

  


Bicicletas escolares estão sendo entregue desde janeiro deste ano. Crianças que moram em locais de difícil acesso são as principais beneficiadas. (Foto: Prefeitura de Uruoca / Divulgação) 
"Bike escolar" é entregue a crianças que moram em locais de difícil acesso. 
(Foto: Prefeitura de Uruoca/Divulgação)
Estudantes de escolas municipais de Uruoca, a 293 km de Fortaleza, contam com bicicletas para ir a escola. Segundo a técnica pedagógica Sheila Andrade, 300 bicicletas foram entregues ao município por meio do programa Caminhos da Escola, financiado com recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Escola (FNDE). “Se não tivesse a bicicleta eu não ia para a aula", diz Fabiana Farias, 10 anos, que mora em lugar de difícil acesso para veículos.


De acordo com Sheila, as bicicletas são entregues desde janeiro aos alunos que residem em locais em que os ônibus não chegam. Apesar de o número ainda não ser suficiente para atender toda a demanda da cidade, segundo a técnica pedagógica, as bicicletas escolares já têm gerado bons resultados na diminuição da evasão escolar e no condicionamento físico dos estudantes.



A estudante Fabiana Pereira Farias, de 10 anos, disse ao G1 que os pais adoraram a ideia da bicicleta e que o novo transporte serviu de incentivo para estudar. “Se não tivesse a bicicleta eu não ia para a aula, não. Eu ficava em casa. A estrada é ruim e eu moro muito longe”, disse a estudante que até 2011, perdia aulas com frequência pois a localidade onde mora fica a 16 km da Escola Municipal de Ensino Fundamental Francisco Marques Vieira. Assim como Fabiana, outras 20 crianças usam a bicicleta escolar como transporte para chegarem à instituição, localizada no distrito de Campanário.



Capacete de segurança também foi entregue aos alunos (Foto: Prefeitura de Uruoca / Divulgação) 
Fabiana Farias,10 anos, pronta para ir para aula.
alunos (Foto: Prefeitura de Uruoca/Divulgação)
De acordo com Sheila, a maioria das bicicletas são usada apenas em parte do trajeto, mais especificamente nas estradas carroçais. As crianças, segundo Sheila, usam a bicicleta até chegar a um ponto fixo por onde passa o ônibus escolar. No local, elas deixam as "bikes'' em uma casa e seguem de ônibus até a escola, mas há alunos que fazem de bicicleta todo o trajeto até o colégio.




“Desde a entrega temos notado as crianças mais bem dispostas. O percurso feito pelos ônibus está mais rápido. Antes, levávamos muito tempo para buscar cada um. Até os danos nos ônibus diminuíram”, disse Sheila. Uma parte das 300 bicicletas doadas pelo FNDE ainda estão em processo de entrega, assim como o capacete de segurança. Novos pedidos devem ser realizados pelo município de Uruoca para atender toda a demanda.




Alccy Marthins