terça-feira, 16 de agosto de 2011

PARALIZAÇÃO DOS PROFESSORES DA REDE PUBLICA DO BRASIL

Professores de ao menos 16 estados e 24 municípios fazem uma paralisação de um dia nesta terça-feira (16) para reivindicar piso salarial, desenvolvimento na carreira e aprovação do Plano Nacional da Educação (PNE), segundo a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), que convocou o protesto.
 



Os estados com professores parados são Alagoas, Amapá, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso, Pará, Paraíba, Pernambuco, Paraná, Rio Grande do Norte, Rondônia e Sergipe, de acordo com o presidente da CNTE, Roberto Franklin de Leão. Outros estados ainda não informaram a confederação sobre a adesão ao movimento, segundo Leão.




O protesto ocorre para tentar forçar os governos a pagar o piso salarial nacional. O piso sugerido pelo Ministério da Educação é de R$ 1.187. A CNTE, no entanto, entende que o valor deveria ser de R$ 1.597. “Os que dizem pagar o piso, pagam o piso que o MEC sugeriu. Além disso, tem problemas com a jornada de trabalho.




Muitos deles não cumprem aquilo que está estabelecido na lei, de um terço da jornada ter de ser feita fora da sala. Além disso, as carreiras estão muito descaracterizadas. Os estados e municípios pagam o piso de nível médio e depois a diferença de quem tem magistério e universidade eles rebaixam. A diferença fica mínima”, afirmou Leão.




Alccy Marthins
@alcy_martins



O ISLÂMISMO E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA O MUNDO

Olhando o mundo hoje, nos admiramos com tudo o que vemos e produzimos. Ficamos fascinados ao olhar para o céu e apontarmos para as estrelas, numa eterna brincadeira de ligue-os-pontos. Vemos a engenharia e a arquitetura brindando-nos com formas e construções magníficas. Vemos a moderna ciência vasculhar os meandros da matéria e combinando substâncias para produzir coisas novas. Os materiais são novos, mas as técnicas são antigas, muito antigas.









Antes de nossos pais, avós, bisavós e do seu antepassado mais antigo do qual você se lembra, a ciência islâmica já dominava o mundo, da Ásia Central à Europa ocidental. Aqui contaremos um pouco sobre como os desbravadores do pensamento científico moldaram nosso mundo e como sua influência não é apenas a pedra basilar de tudo o que sabemos hoje. É simplesmente MUITO MAIS!




Tudo começa com o declínio do Império Romano no século V. A Europa vira a sucursal do Inferno. Bárbaros atacam de todo o lado, as glórias de Roma e o estandarte SPQR (Senatvs Popvlvs Qve Romanvs – O Senado e Povo de Roma) já não são mais vistos. Vikings, bretões, saxões, visigodos, magiares, eslavos e vândalos (tribos germânicas que deram origem ao moderno termo “vândalo”, que na época se tratava de uma turba bárbara que destruía tudo o que encontrava pela frente) não sentem mais medo das legiões romanas.




Em 476 d.C., o imperador Flávio Rômulo Augusto (Flavivs Romvlvs Avgvstvs) – ridicularizado pela alcunha de Rômulo Augústulo, significando que ele era “Pequeno Augusto” – teve a sua bunda romana chutada pelo rei Odoacro da tribo germânica dos Hérulos. Odoacro nasceu às margens do rio Danúbio, que não era tão azul assim na época e ficou muito pior durante as guerras. O rei germânico mandou os estandartes de volta para Zenão I, imperador romano do oriente, cujo império viria a se tornar o Império Bizantino e lá começaria a desenvolver-se o que viria a se tornar a Igreja Católica, como força política e militar, mas isso ainda demoraria alguns séculos.





No século VII, um certo cameleiro, condutor de caravanas, teve um vislumbre do poder de Deus. Ou, pelo menos, foi isso que ele disse depois que o arcanjo Gabriel deu-lhe um “guenta” e ordenou que ele recitasse. Assim, Abu al-Qasim Muhammad ibn ‘Abd Allah ibn ‘Abd al-Muttalib ibn Hashim, mais conhecido como Muhammad ou Mohammed ou ainda Maomé (por razões de economia de tempo e espaço, não colocaremos as transliterações dos nomes e demais palavras em árabe usando seu próprio alfabeto, nos contentando apenas com os nomes, títulos e demais palavras usando o alfabeto latino mesmo), fundou uma das maiores religiões do mundo, ainda hoje em ascensão: O Islamismo.





De posse de uma das mais poderosas forças que se pode obter, a religião organizada, Maomé começou um movimento de expansão. Brandindo o Al-Quram como a verdadeira e única Palavra de Deus, Maomé passou a fio de espada qualquer um que ficasse em seu caminho, com uma mensagem clara: Convertam-se ou virem carne de hambúrguer. Se bem que ainda não existia hambúrguer, mas vocês entenderam.





É irônico pensar que Maomé, um humilde condutor de camelos analfabeto fosse capaz de tal levante. Há muitas explicações para isso, mas não deitarei mais linhas a respeito por simples economia de espaço e para não desviar (mais do que já está) do assunto. Mas é importante saber que sob as palavras iniciais de cada sura do Alcorão ergueu-se o maior movimento intelectual e científico da época, e que será explicado no decorrer do texto.





Assim, antes de cada sura vem escrito a citação que qualquer muçulmano sabe de cor: Bismillahir Rahmanir Rahim (Em Nome de Deus, O Clemente, O Misericordioso!). Porquanto, toda e qualquer palavra do Al-Quram é considerada sagrada, as palavras do próprio Deus, pois Alá é único e imutável; não há nenhum outro deus senão Alá e Mohammed SAS é seu profeta. Muçulmanos costumam escrever SAS (ou SAAS) após o nome de Maomé, pois é a sigla de Salla Allahu Alahi wa Sallam (Que Deus o abençoe e lhe dê paz).





No caso de outros profetas (aqueles que trazem a verdade de Alá) coloca-se AS (Alaihi Salam – Que a paz esteja com ele). Entre outros profetas estão Adão, Noé, Abraão (patriarca dos islâmicos, já que foi pai de Ismael, segundo o mito) e até mesmo Jesus (que pros muçulmanos foi apenas homem comum).
Ano a ano, década a década, enquanto o Império Bizantino caía na degradação e a Europa era terra de ninguém, o Islã florescia.





Enquanto a medicina na Europa praticamente inexistia, quando o analfabetismo era praticamente 100%, a expectativa de vida era de 30 anos e as mulheres morriam lá pelos 20 anos, principalmente por causa de complicações no parto, o mundo islâmico começava a expansão dos seus domínios. O mundo islâmico ia desde a Ásia Central e ia até a Península Ibérica, dominando todo o Oriente Médio, Norte da África e parte da Europa.








Em 638 d. C., o califa Umar Ibn Al Khattab entrou em Jerusalém; judeus e cristãos foram recebidos com respeito e havia uma imensa tolerância religiosa e cultural. A sede do império ficava em Bagdad, no atual Iraque, berço da civilização, onde outrora fora parte da gloriosa Babilônia.




Mas então os problemas começaram. Problemas de logística, pois administrar um vasto império em franca expansão não era fácil, e ainda não o é. Não havia um perfeito entendimento entre as pessoas, já que havia muitos lugares, muitos povos, muitas culturas e idiomas diferentes. Entre 688 e 691 da Era Comum, o décimo califa Abdul Malik lbn Marwan, da dinastia Omíada, construiu a Cúpula da Rocha.





Sendo um homem pragmático, ele ordenou que a língua oficial de seu reinado fosse o árabe, de forma que as ordens chegassem a todos os lugares, sem que houvesse problemas de interpretação de texto. Instituiu que as pessoas soubessem ler e escrever, não tanto por causa do amor às letras, mas por fundamentação religiosa (todos precisam conhecer as Palavras de Alá; para tanto, precisam ler o que está escrito ali) e política, afinal, desde as épocas mais remotas, manda quem pode, obedece quem tem juízo.




Começou assim um grande movimento de alfabetização. A alfabetização era compulsória. Você TINHA que saber ler! Obviamente, judeus, cristãos ou veneradores de outra religião estavam isentos disso, mas se todo mundo começava a falar e escrever em árabe, como fazer então para se comunicar? E o comércio, que sempre foi a mola-mestra das sociedades? Foi uma tacada de mestre!





Ainda com base no Alcorão, começou um movimento cultural no Império Islâmico. Enquanto outras religiões baseavam-se unicamente no que vinha escrito em seus livros religiosos, o Alcorão estimulava e ORDENAVA que se buscasse o conhecimento onde quer que o encontrassem. Enquanto o Livro de Reis se contentava em dizer qualquer bobagem matemática, onde o valor de pi era deduzido como apenas 3, os árabes se tornaram mestres nas ciências dos números, só se comparando aos chineses e aos hindus.





Enquanto os evangelhos sugeriam que sintomas de esquizofrenia deveriam ser tratados com desencapetamentos, os médicos islâmicos começaram a entender melhor como o corpo humano funcionava e até faziam cirurgias.




Só para vocês terem uma ideia, podemos citar o caso de Galeno. Clavdivs Galenvs, também conhecido como Galeno, era um médico grego nascido em Pérgamo em 131 E.C. Sua especialidade eram os gladiadores. Considerando que gladiadores custavam e forneciam dinheiro, através das porradarias nos circos romanos, os donos não queriam que suas “mercadorias” se perdessem. Assim, contratavam excelentes médicos para remendar os lutadores (que normalmente não tinham vida muito longa, de um jeito ou de outro).





Galeno ficou famoso porque foi o médico que menos perdeu pacientes durante toda a sua carreira, em comparação aos seus contemporâneos, evidentemente. Galeno era muito curioso e queria saber como o corpo humano funcionava e só havia um modo de saber: dissecção.




A legislação na época determinava que corpos de pessoas não podiam ser violados. Ainda hoje é assim, pois nossas leis se baseiam nas leis romanas; por isso, para podermos fazer uma exumação de um cadáver, é preciso autorização judicial. Galeno não tinha permissão para ficar fuxicando nos corpos das pessoas, então ele usou outro caminho: dissecava macacos, porcos e cães. Isso o levou a escrever muitas besteiras.




Ele achava que o fígado produzia todo o sangue do corpo, o qual saía dele e era distribuído; além disso, acreditava que o sangue continha espíritos. A medicina de Galeno ainda estava repleta de crendices e ideias influenciadas pela sua religião pagã. As ideias (pseudo)científicas de um homem que viveu na Roma do século II tornaram-se uma doutrina médica universalmente aceita até meados do século XVI.



Em 1500 anos separam Galeno do médico belga Andreas Vesalivs, também chamado Vesálio, que foi o primeiro europeu a contradizer as “verdades absolutas” de Cláudio Galeno. Enquanto Galeno afirmava que o fêmur humano era curvo (porque tinha visto em cães), Vesálio deu um “dane-se” pro status quo e realizou autópsias em pessoas, verificando que o nosso fêmur não era curvo, mas reto. Caso tivessem lido as obras árabes, saberiam disso com maior antecedência.





Voltando à administração do reino islâmico, o processo governamental estava ficando cada vez mais complicado, e para o desenvolvimento de uma nação é preciso uma coisa: conhecimento. Saber é conhecer, conhecer é controlar. Dessa forma, no século IX, teve início o reinado do califa Abu Já’far Abdullah al-Ma’mun ibn Harun, da dinastia Abássida, mais conhecido como Al-Mamun. Ele teve o mesmo ímpeto que Alexandre da Macedônia quando fundou Alexandria, no Egito, seguido por Ptolomeu I Soter: O Califa ordenou que emissários fossem aos quatro cantos do mundo e trouxessem o maior tesouro da humanidade: Livros.




Não importava quais, não importava de quem, não importava o idioma. Tragam os livros! Sabendo que a busca pelo saber nem sempre é estímulo suficiente, o Califa ofereceu a cada pessoa que trouxesse um livro que ele não dispunha seu peso em ouro. Como nos dias de hoje, bajular Chefes de Estado era garantia de ascender na corte; possuir a proteção de um califa era algo muito legal naquele tempo, onde as pessoas não eram tão amiguinhas assim. O mundo mudou pouco.





Com o tempo, ficou claro um problema sério: o idioma. Havia textos em grego, siríaco, copta, chinês, latim, rúnico, hindu etc. Algo precisava ser feito para dar ordem naquela algaravia de textos. Então, deu-se início um projeto ambicioso: traduzir todos os textos da biblioteca do califado e todos os demais que ainda pudessem ser encontrados. Chefiados por Abu’l-Faraj Muhammad bin Ishaq al-Warraq, conhecido como Ibn al-Nadim, começou o que historiadores denominam Movimento de Tradução.





Todo o saber da época seria traduzido para o árabe, de modo que estivesse disponível a todos que quisessem lê-los (lembrando que o analfabetismo praticamente foi erradicado). Se hoje temos os escritos de Platão, Epicuro, Aristóteles, Cláudio Ptolomeu, Sêneca, Cícero, Sófocles, Júlio César etc., é devido aos árabes. Com alguns escritos não teve jeito! Perderam-se nas brumas do tempo, entre traças, cupins e turbas ensandecidas queimando livros considerados heréticos.





Os árabes resgataram muito da sabedoria e cultura dos antigos; mesmo que não tenhamos as obras completas de todos eles, você jamais saberia da Ilíada e a Odisséia se não fosse pelas ordens de Al-Mamun. Mas os árabes não se contentaram com a sabedoria dos antigos. Eles tinham curiosidade, queriam experimentar, queriam testar, queriam comprovar tudo o que estava ali.





Eles não aceitavam o peso da autoridade como fato. Só comprovações. Assim, deu-se o início das investigações científicas. Debates eram amplamente estimulados. Para isso, foi criada a Bait al-Hikma, a Casa da Sabedoria. Nos moldes do Fórum Romano, lá você poderia discutir qualquer tema, desde que fosse de forma respeitosa e, para evitar problemas linguísticos, tinha que ser em árabe, obviamente. Na época, ainda não havia trolls circulando.




Se havia, eles provavelmente foram expulsos e/ou decapitados (espero que os dois, coisa que eu gostaria de fazer com alguns que aparecem aqui). Na Casa da Sabedoria, o conhecimento era transmitido livremente e o saber era absorvido por todos, onde um complementava as ideias/descobertas de outro, num clima sem hostilidades, coisa que está se tornando raro nos dias de hoje. Temos que dar uma parada para darmos completa atenção ao maior presente que os árabes deram ao mundo: a Matemática.




Alccy Marthins
@alcy_martins



JOGADOR DE FUTEBOL AGORA É SINÔNIMO DE ASSASSINO - RAFAEL SILVA JOGADOR DA PORTUGUESA

O jogador da Portuguesa Rafael Silva, de 20 anos, falou ao Fantástico pela primeira vez sobre a morte da namorada Flávia Anay de Lima, de 16 anos, que caiu do prédio onde os dois moravam na Zona Leste de São Paulo, há duas semanas. “Era uma pessoa que eu amava muito. A gente nunca imagina o que se passa pela cabeça das pessoas”, disse o jogador. “O que eu pude fazer por ela, eu fiz”, garantiu o atleta. Ele alega que a jovem se jogou do 15º andar do prédio.






Os pais da adolescente não acreditam na versão do atleta para a morte e suspeitam que ela tenha sido assassinada pelo namorado. “Ele está tentando se defender. Até que a perícia prove o contrário, eu não acredito que a minha filha se suicidou”, diz o empreiteiro Francisco Carlos Lima, de 42 anos. A polícia trata o caso como morte suspeita.



Rafael conheceu Flávia no carnaval de 2008, em Praia Grande, no litoral de São Paulo, onde a jovem vivia com os pais. Ele tinha 17 anos e ela, 13 anos. “Foi um começo como qualquer outro namoro. Apaixonante e tal. E a gente foi se envolvendo, se envolvendo, cada vez mais”, contou o jogador. Dois anos depois, já moravam juntos em São Paulo. “Foi bacana. A família dela apoiou no começo. Foi magnífica”, completou.



A polícia perguntou para a mãe de Flávia por que a família deixou a adolescente sair de casa tão jovem. “Ela [mãe] relata que não havia muito o que fazer, porque ela queria e sabe como é adolescente. Adolescentes, quando querem alguma coisa, acabam fazendo o que querem”, diz a delegada seccional Elisabete Sato.
 

Rafael Silva começou nos times de base da Portuguesa e se tornou profissional há dois anos. Na carreira, ele diz que tudo ia bem. O que não acontecia na vida pessoal. “A Flávia tinha um ciúme muito possessivo, muito doentio. Ela discutia, levantava a voz”, contou. Questionado se perdeu a cabeça alguma vez, ele negou. “Jamais levantei a mão para ela.”



Não é o que diz a família de Flávia. “Segundo os familiares, estava com muito hematoma no corpo. As agressões eram físicas, não eram verbais”, diz Ademar Gomes, advogado dos pais da jovem. A mãe da adolescente afirma que, 15 dias antes de morrer, Flávia pediu socorro.




“Ela falou assim para mim: ‘mãe, vem logo porque ele está me batendo’. Porque ele queria sair de casa, mas, pelo estado de alcoolismo dele, ela não queria deixar por medo de acontecer um acidente com ele”, conta Luara Adriana de Lima, de 38 anos.



O jogador negou novamente qualquer agressão. “Ela trancou a porta e não queria deixar eu ir retirar meu pai do hospital. Eu fiquei nervoso, fiquei batendo na porta para ela abrir, mas jamais a agredi, nunca. Eu não sou alcoólatra. Não bebo muito. Sou um jogador profissional”, alegou. O presidente da Portuguesa, Manuel da Lupa, negou que ele tenha chegado alguma vez ao clube alcoolizado. “Nunca aconteceu. E, se realmente acontecesse, ele não estaria mais jogando na Portuguesa”, afirmou.



Mas o que aconteceu na madrugada do dia 31 de julho? Segundo o atleta, a discussão começou na porta de um bar. Flávia apareceu de surpresa. “Parei lá e, depois de dez minutos, o cara lá que olha os carros na rua me chamou. Falou: ‘sua mulher está quebrando o seu carro’. E veio me agredir. Para evitar confusão, virei as costas. Peguei o carro e fui embora”, contou. As câmeras do prédio registraram a chegada de Rafael e da namorada, dez minutos depois.




O jogador da Portuguesa diz que a discussão continuou dentro do apartamento e que ele começou a arrumar as malas para sair de casa. Segundo Rafael, ao saber da separação, Flávia jogou uma caixa de som na cabeça dele. Foi a última briga do casal. “Ela chegou em casa toda eufórica, me agredindo e foi no que deu tudo nisso, que aconteceu essa fatalidade”, lembrou.




O atacante da Portuguesa diz que são dele as manchas de sangue achadas no elevador e no apartamento, inclusive as das mãos no azulejo do banheiro. De acordo com Rafael, o sangue é do ferimento na cabeça, provocado pela caixa de som. O material está sendo analisado pela perícia.




Ele diz que não se sente culpado. “Não me sinto culpado, não. Porque o que eu pude fazer por ela, eu fiz", alega. Agora, Rafael terá que prestar novo depoimento e vai participar da reconstituição da morte de Flávia, que deve ocorrer esta semana. A polícia espera o resultado dos laudos para concluir o caso e dizer se Flávia foi, ou não, assassinada.




Alccy Marthins
@alcy_martins



CLEÓPATRA UM MISTÉRIO DE 4.011 ANOS

O que é necessário para se tornar um mito? Se você for mulher, a fórmula é simples. Suas melhores apostas são os três Ds: delusão (Joana D’Arc), deficiência (Helen Keller), destruição (Sylvia Plath). Você pode conseguir pontos extras com uma morte cruel, súbita ou surpreendente, como demonstram Evita, Amelia ou Diana. No topo da lista das personalidades mais autodestrutivas de todos os tempos vem, é claro, Cleópatra VII, cuja busca pelo túmulo começará em breve, num monte egípcio a oeste de Alexandria.



 
 Rainha Cleópatra VII do Egito
Foto: MGM

Cleópatra morreu há 2.039 anos, com 39 anos de idade. Antes de se transformar em máquina de caça-níqueis, videogame, marca de cigarro, camisinha, caricatura, clichê ou sinônimo de Elizabeth Taylor, antes de reencarnar nas obras de Shakespeare, Dryden ou Shaw, ela foi uma rainha egípcia de verdade. Governou por 21 anos, a maior parte do tempo sozinha, o que quer dizer que ela era essencialmente um rei feminino, uma incongruência que provoca o tipo de reação antes reservada aos homens travestidos.




Do ponto de vista dela, não havia nada de estranho com o arranjo. Cleópatra certamente tinha mais modelos femininos poderosos do que qualquer outra mulher na história. Elas não eram exatamente estandartes da virtude, mas articuladoras políticas argutas. Suas antecessoras foram as rainhas macedônias rancorosas e intrusivas que rotineiramente envenenavam irmãos e enviavam exércitos contra seus filhos. A tataravó de Cleópatra declarou uma guerra civil contra seus pais, e outra contra seus filhos. Essas mulheres foram criadas para governar.




Cleópatra teve um filho com Júlio César. Depois de sua morte, ela teve mais três – dois filhos e uma filha – com seu protegido, Marco Antônio. A maternidade confirmou seu poder sobre o trono. Ela foi em parte o reverso de Henrique 8º; ela também precisava de um herdeiro homem, mas teve mais sucesso ao consegui-lo.




É quase certo que Marco Antônio e Júlio César representam toda a extensão da história sexual de Cleópatra. Ela era autoconfiante, engenhosa e destemida, e para sua época e lugar era extremamente bem comportada. Tendo herdado um país em declínio, ela o governou com habilidade num período de seca, fome, peste e guerra.




Entretanto, o que pode ser dito de bom de uma mulher que dormia com dois dos homens mais poderosos de sua época? Os pais dos filhos de Cleópatra eram homens de um apetite sexual voraz e notório. Cleópatra é lembrada na história como uma sedutora implacável. Ela é a garota má original, uma Monica Lewinsky do mundo antigo. E tudo porque ela aparece em uma das mais perigosas intercessões da história, a que existe entre as mulheres e o poder.




Ela reina eternamente sobre a disputa entre promiscuidade e virilidade, a floresta de conotações que separam a “aventureira” do “aventureiro”. No mundo antigo, também, as mulheres faziam intriga enquanto os homens faziam estratégia. E o poder feminino se afirmava com regularidade, de uma forma mais velada do que na época grega. Nos contratos de casamento do primeiro século antes de Cristo, a mulher prometia ser fiel e dedicada – e não colocar poções de amor na comida do marido. As mulheres inteligentes, já alertava Eurípedes, são mulheres perigosas.




Assumindo que a dupla medida sobreviveu pelo menos 2 mil anos desde Cleópatra, o que estamos fazendo hoje num monte egípcio, sob as ruínas do templo de Taposiris Magna? “Esta pode ser a descoberta mais importante do século 21″, diz o diretor do patrimônio egípcio, Zahi Hawass, sobre a escavação. Com certeza será um alívio riscar Cleópatra da lista de coisas que perdemos, ou que acreditamos ter perdido: Atlântida, Jamestown, uma tribo inteira de Israel, boas maneiras, Jimmy Hoffa.




Se encontrarmos o túmulo de Cleópatra – e certamente encontraremos algo relevante, uma vez que Hawass parece determinado a fazer uma descoberta à altura de Tutancâmon, em 1992 – poderemos até solucionar o mistério da morte de Cleópatra. Com certeza não haverá uma víbora preservada ao lado de sua múmia. Isso foi provavelmente um acréscimo à história. Não é difícil de imaginar o que alguém quer dizer quando junta uma mulher com uma cobra.




Entretanto, talvez possamos determinar se Cleópatra cometeu suicídio ou foi de fato assassinada. Enquanto prisioneira, ela era um constrangimento para os romanos, que não sabiam como triunfar com alarde, e com certa compaixão, sobre uma mulher. Pode ser que eles tenham-na matado antes. Em grande parte, foram os inimigos de Cleópatra que garantiram nosso fascínio em relação a ela. Foi a guerra civil de Roma que assegurou a sua imortalidade.





E foi Otaviano, seu inimigo e futuro Augusto César, que estabeleceu sua aura de femme fatale. Ele também pode ter sido o responsável pela versão da Classic Comics de uma rainha pervertida e ambígua, abrindo o caminho para Joseph L. Mankiewicz. Mas nesse processo, ele superdimensionou Cleópatra a proporções hiperbólicas – para fazer o mesmo com sua própria vitória. A história de Cleópatra difere da maioria das histórias sobre mulheres, porque os homens que a contam, por seus próprios motivos, engrandecem e não diminuem o papel dela.




Otaviano quase não precisava aumentar a história. Ela era uma mulher da realeza que por fim, pode-se dizer, morreu por amor. As tragédias românticas não ficam melhores do que isso, o que explica porque Shakespeare teve dificuldade em melhorar Plutarco. E Cleópatra coloca um rótulo antigo em algo que sempre soubemos existir: a sexualidade feminina exacerbada. Eis novamente aquela poção do amor.




Não é que ela tenha batido a cabeça num teto de vidro, mas tropeçou no alçapão de entrada, na armadilha que diminui as mulheres através da sexualidade. Como escreveu Margaret Atwood sobre Jezebel, “a bagagem sexual que acumulada em torno dessa figura é impressionante, uma vez que ela não fez nada nem remotamente sexual na história original, exceto usar maquiagem”. No caso de Cleópatra, a ausência total de verdade assegurou o mito. Quando os fatos são escassos, os mitos invadem a história, como erva daninha.




Seria um alívio resolver de uma vez por todas a dúvida excruciante sobre a beleza de Cleópatra, apesar de a resposta não afetar praticamente nada. Mesmo que ela tivesse todas as armas estéticas em seu arsenal, já sabemos quais ela usou com tanta destreza. “Era impossível conversar com ela sem ser imediatamente cativado”, diz uma de nossas duas melhores fontes.




Sua voz era aveludada; sua conversa estimulante; seus poderes de persuasão inigualáveis; sua presença um evento, diz o outro. Provavelmente nenhum desses atributos poderá ser extraído da rocha egípcia para fazer uma turnê internacional. Cleópatra serviu como uma arma eficiente que Otaviano usou para unir-se a Marco Antônio, numa guerra civil particularmente violenta.




Foi sua fraqueza pela estrangeira sedutora que corrompeu e arruinou Antônio. Descobriremos que ele dividiu o túmulo com Cleópatra, conforme dizem os relatos antigos? Afinal, foi o pedido – real ou inventado por Otaviano – de ser enterrado ao lado dela que custou Roma a Marco Antônio. Dizem que Cleópatra o enterrou com suas próprias mãos, febrilmente, com suntuosidade e honrarias. (Ela tentou deixar de comer até a morte na época.) Entretanto, a busca pelo túmulo dele não é assunto para as manchetes. Marco Antonio é um tanto figurante da história alheia.




A busca é, além disso, atual. A classicista de Cambridge Mary Beard diz que durante anos o Santo Graal dos arqueólogos foi o túmulo (ainda perdido) de Alexandre, o Grande. Mas não estamos mais no mercado em busca de um homem branco imperialista. Apesar de essa escavação não solucionar nenhuma das grandes questões, ela poderia, diz Beard, possivelmente oferecer pistas sobre a etnia de Cleópatra.





Ela era uma macedônia pura, ou tinha descendência africana? (Minha aposta é de que ela era macedônia com, talvez, um pouco de sangue persa.) De fato a questão da ancestralidade mista parece ser o assunto da vez. Há um mês, cientistas britânicos sugeriram que haviam solucionado definitivamente a questão, produzindo simulações computadorizadas da irmã de Cleópatra com base num crânio encontrado na Turquia.




Aqui entramos num exercício familiar: Cleópatra também passou sua vida tentando reconciliar Ocidente e Oriente, com tão pouco sucesso quanto conseguimos hoje. Um romano não conseguia pensar além de um Ocidente civilizado e virtuoso e um Oriente opulente e decadente. Ele era incapaz de vislumbrar além do exótico e do erótico.




O Oriente era, por definição, atraente e voluptuoso – como uma mulher, de fato. Pense na dança árabe do maravilhoso segundo ato do balé “Quebra-Nozes” de Balanchine. Ela é uma presença ardente, intoxicante, muito potente para qualquer parceiro, sem nenhuma importância para a história, que sempre suspeitei estar lá somente para acordar os pais da platéia.




É claro que temos intenção de solucionar os enigmas. Ansiamos pela caixa preta da história. De certa forma, também queremos a confirmação de que vivemos no mesmo planeta que a lenda que inspirou dois milênios de prosa ardente, de que aquilo que parece mito foi história verdadeira. Temos sede de certezas.




Queremos ver e tocar o mito em todo o seu cintilante esplendor, esquecendo-nos de que ao fazer isso ele volta – pelo toque de Midas ao reverso – para a escória da história. Se encontrarmos Cleópatra, e se pudermos lhe dar um rosto, prometemos desistir de Elizabeth Taylor de uma vez por todas?Escolheremos a mulher ou o mito? Será que algo se perderá quando ela for encontrada? Otaviano tinha seus planos, nós temos os nossos.




Não importa o que as tumbas de Taposiris nos reservam, é pouco provável que ofereçam uma resposta para a misteriosa questão das mulheres e o poder. Para isso, teremos de escavar em outros lugares. E pode levar um pouco mais de tempo. As Cleópatras de hoje não tem mistério muito menos honra.





Alccy Martins
@alcy_martins