sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

GREVE DOS PM'S DO CEARA EM 1987: A AÇÃO DE TASSO JEREISSATI NO PASSADO E A DE CID GOMES NO PRESENTE


 


Se formos fazer um levantamento da ação dos chefes do executivo deste país, percebe-se de cara que não respeitam servidor público e que alem disso, explusam em vez de negociar. São na verdade governadores sem estratégia de Gestão de Pessoas, ou seja, não tem identidade com os Recursos Humanos.



Início da matéria de 1987 da Rveista VEJA

Contrariando a fama tucana de sempre ficar em cima do muro, o governador do Ceará, Tasso Jereissati, enfrentou os amotinados da PM,venceu-os, ordenou a prisão dos líderes do movimento e anunciou a expulsão de setenta soldados e 26 civis insubordinados. Todos eles, na quinta-feira, chamados pelos superiores, foram obrigados a entregar fardas, armas e distintivos.

Aguardam agora em casa o início dos processos. "Era melhor correr o risco do confronto do que perder a autoridade", afirma o governador. O risco transformou-se em fato na última terça-feira, às 3 e meia da tarde, quando em plena beira-mar, sob um sol radiante e céu azul, uma coluna de cerca de 2.000 policiais insurretos assomou a um quarteirão do Palácio da Abolição, sede da Secretaria de Segurança Pública. No local, o general Cândido Freire, secretário de Segurança, estava protegido por 100 soldados do Exército.

Das forças leais constavam ainda 120 homens da tropa de elite da PM. No Palácio do Cambeba, sede do governo cearense, a 15 quilômetros do epicentro da crise, Jereissati, as orelhas grudadas a um telefone de campanha, disparava ordens aos comandantes da PM e ao secretário: "Contenham os manifestantes. À força, se preciso for". Nenhum manifestante deveria chegar ao prédio da secretaria.


Tasso acompanhava de perto a movimentação nos quartéis havia várias semanas. Usou espionagem, infiltração no movimento sindical e golpes por baixo do pano. Os serviços de inteligência da PM, nome-código P-2, e do Exército mantiveram ao longo do último mês um belo punhado de agentes infiltrados na Associação de Cabos e Soldados e no Sindicato dos Policiais Civis. Sabia-se, por exemplo, que as lideranças cearenses estavam desorganizadas, o que enfraquecia o movimento e facilitava o trabalho de repressão.


Às 10 horas da terça-feira, cerca de 800 manifestantes começaram a se reunir defronte da Associação de Cabos e Soldados, no centro de Fortaleza. Queriam um aumento imediato nos soldos, de 43 reais para 120. Foram, então, para o Comando de Polícia da Capital, também no centro, onde chamaram os camaradas aquartelados para se unir à manifestação.


Parte da soldadesca aderiu, sob a ovação dos que aguardavam do lado de fora. Por volta da 1 e meia da tarde, decidiram ir em direção do Palácio da Abolição. Inútil. A 500 metros de seu alvo, encurralados pelas tropas leais, foram abordados pelo coronel Mauro Benevides, comandante da PM do Ceará, que tentava dissuadi-los a se dispersar. E, de repente, o tiroteio.


Um lado acusa o outro de ter disparado primeiro. Benevides tentou escapar e chegou a entrar em seu carro oficial, que não deu partida. Ao sair do veículo, abaixado, em busca de abrigo, levou um tiro e bateu a cabeça no meio-fio. Até a última sexta-feira, o coronel estava internado e com uma bala alojada próximo à sétima vértebra cervical. Os médicos que o atenderam identificaram um pequeno coágulo no cérebro. Os manifestantes não tiveram alternativa senão se retirar.


Luta entre irmãos -- O episódio de Fortaleza colocou em lados opostos "irmãos de farda". O soldado Simplício Mota da Silva, 27 anos, apareceu nas primeiras páginas dos jornais, dentro de um carro, socorrendo o comandante ferido. Militar há oito anos, o soldado integra o Gate, uma tropa de elite, e, mesmo com salário de 320 reais -- a média salarial da PM cearense -- e duas filhas para sustentar, critica os revoltosos. "A reivindicação pode ser justa, mas PM não pode fazer greve", diz ele, que largou o posto de cabo no Exército para entrar na polícia.


O sargento Dimas Rocha de Lima e o soldado A. da Silva também ganharam as páginas dos jornais, só que estavam do outro lado. Fotografados com revólveres em punho, os dois foram reconhecidos por seus superiores. Como outros PMs grevistas, devem ser expulsos. Dimas entrou na corporação há oito anos. A ficha do sargento registra comportamento "ótimo". No dia da paralisação, ele estava dentro do quartel quando foi convocado por outros colegas. Terminou expulso. Diz que não se arrepende. "A única coisa que eu não faria de novo seria entrar na PM", explica.


O ex-sargento Dimas ganhava 407 reais. Agora, tentará o futuro como pescador, ao lado do pai, em Fortaleza. Integrante do Batalhão de Choque, A. da Silva foi descoberto pelo cadarço do coturno que usava no dia do confronto. Vermelho, é específico da tropa de choque. Há quatro anos na PM, Silva ganha 320 reais e tem duas filhas menores. Nunca havia faltado ao serviço. "Só participei porque estava desesperado e sem perspectivas", explica-se. Aos que lhe foram leais, Tasso promete a construção de 1.000 casas populares e a concessão de honrarias militares.


A estrela da temporada

Finalmente, um político teve a coragem de tratar os grevistas da PM como o que realmente são: amotinados que, de armas na mão, desobedecem a seus comandantes e rasgam as leis que deveriam defender. Esse político foi o governador tucano Tasso Jereissati, do Ceará. Ao contrário de um Eduardo Azeredo, por exemplo, que concedeu aumento de 48% a policiais que faziam balbúrdia nas ruas de Belo Horizonte, Tasso endureceu desde o primeiro momento.


Não negociou com grevistas, não aceitou intermediários e, os que conseguiu identificar, expulsou-os da polícia na hora. Já em Pernambuco, o comandante da PM chegou a prender os líderes da greve no início da paralisação, mas no mesmo dia atendeu a apelos de deputados estaduais e soltou todo mundo. A greve se prolongou e terminou vitoriosa, com 46% de aumento.


Em Alagoas, onde os policiais cobravam o pagamento de seis meses de salários atrasados, a greve terminou por cansaço na quinta-feira, sem nenhuma conquista. E ficou por isso mesmo. Para justificar a falta de punições, o comando da PM alagoana alegou razões humanitárias, lembrando o estado de miséria em que vivem os policiais, que nem sequer recebem em dia os salários.


No início da assembléia em Fortaleza, que terminou em passeata e tiroteio, na terça-feira, o presidente da Associação de Cabos e Soldados era um. No fim do dia era outro, um cabo que assumiu o comando da greve no meio da confusão, sem que ninguém entendesse direito como isso aconteceu. Os policiais civis pegaram carona no movimento durante a passeata. Mais de 80% da tropa se manteve distante da agitação e ao lado do governador.


Nenhum oficial manifestou apoio ou simpatia pelos policiais e um deles, o coronel Mauro Benevides, foi para a linha de frente da batalha no primeiro momento. Com as prisões e o endurecimento do governo, a greve acabou sozinha. Na quinta-feira, havia oito policiais protestando na frente da Secretaria de Segurança Pública. Foram todos presos. Outros que estavam por perto trataram de sumir logo.


Também ajudou Tasso a vencer a guerra o fato de ele ter enfrentado e começado a sanear a corporação policial muito antes do início das rebeliões nos Estados. Em abril, ele criou uma comissão para investigar denúncias de corrupção nas duas polícias. O resultado foi a demissão de 36 delegados, policiais civis e militares.


Acusados de exigir propinas, de colaborar com o tráfico de drogas e de receptar carros roubados, eles conseguiram voltar à polícia com ajuda de liminares judiciais, mas continuam afastados de suas funções e estão encostados, recebendo sem trabalhar. Feito o expurgo, Tasso subordinou as duas polícias à Secretaria de Segurança Pública e botou no comando o general Cândido Vargas Freire, indicado pelo ministro do Exército, Zenildo de Lucena.


Antes da mudança, a secretaria não mandava nada e o comandante de cada polícia agia de maneira autônoma, com status de secretário de Estado, e sem falar direito um com o outro. O desfecho da greve da semana passada mostrou que a providência deu resultado. "Não há como negociar coisa alguma quando a hierarquia é quebrada", diz o governador.


Fim da matéria de 1987 da Revista VEJA

Fica claro que neste país de fato não temos governantes e sim verdadeiros manipuladores das ações de um governo, que democracia fica apenas no campo das ideias daqueles que pensam que a exerce. É triste saber que em pleno século XXI uma categoria ou qualquer outra força que represente o povo trabalhador deste país tenha que se submeter a tanto risco para dizer para esses bandidos do 'colarinho branco' que estão sendo humilhados, massagrados e violados em sua dignidade humana.



Com certeza o governador Cid Gomes não fará diferente de seu colega de palácios e galhos, pois esse governador do Ceará, tem ação de macaco mesmo, é só pulando de greve em greve. Nós, quanto civis precisamos nos conscietizar de que governo que nao respeitar servidor não deve governar. Segundo Tiago Pinheiro da OAB-CE, a manifestçaõ dos PM'S e Bombeiros cearense é legitima, e não deve sofrer repressálias, até mesmo porque estão lutando pelo credo da CF/88 que é o princípio da dignidade humana.



O governo de Cid Gomes afirma que não reconhece o movimento como uma greve, e que vai agir forte se preciso for. Fortaleza capital do Ceará está sem segurança para o Reveillon pois com a PM e Corpo de Bombeiros em greve, inviabiliza otrabalho da AMC e Guarda Municipal. E agora Cid Gomes e prefeita Luiziane Lins a solução é chamar a Ivete Sangalo mesmo para levantar a poeira e cobrir todo mundo. Enquanto os bandidos saqueiam a população.


Texto de Manuel Fernandes
Adaptado por Alccy Marthins
Matéria de 1987 extraída da Revista VEJA