Não podemos dizer que não temos educação seria, porem é uma educação mascarada. Educação é um assunto que às vezes evito, por estar sempre cercado de pessoas que entendem mais do que eu. Mesmo sendo pedagogo de formação, às vezes discordo dos modos como educamos nossa juventude. Observo que há muita teoria e pouca prática.
Porém, mesmo assim reconheço a existência de excelentes teóricos da educação, em nosso Ceará. Uns foram meus professores, outros são estudiosos das várias vertentes teóricas da Pedagogia. O Ceará possui dez mil escolas de ensino fundamental e médio, onde mourejam professores com experiências às vezes tão exitosas que podem perfeitamente servir de modelo para nossos mestres e para escolas de outros estados.
As vivências fazem do homem um ser apoteótico. São essas experiências que me empolgam muito mais que bibliografias que entopem bibliotecas e trazem de fora para dentro da nossa realidade exemplos que muitas vezes não nos servem. Prefiro conhecer casos como o de Alemberg Quindins na sua Casa Grande, lá no Cariri, ou o do Dr. Mourão com o Quatro Varas, no Pirambu.
Visto que há casos exemplares de escolas em Sobral, Brejo Santo, Iguatu e Tianguá. São casos criativos de gestores e professores que precisam ser conhecidos pelas outras escolas. Mas isso não interessa muito. Parece que só interessa o que vem de fora. Só interessam experiências da Finlândia, da Corea, de Cuba, da Costa Rica, Rio e São Paulo. O Ceará não entra nesse mapa que só tem visibilidade de Pernambuco para lá.
Pensando bem, aí está mais um evento de educação a ser realizado aqui em Fortaleza quando janeiro vier. Serão três dias de uma verdadeira esbórnia pedagógica em hotel de cinco estrelas a preços de três dígitos por dia. Serão 22 palestrantes do Brasil e d´alhures, não sendo possível incluir um cearense sequer.
Em três dias, essas 22 estrelas desfilarão ideias que salvarão a educação cearense. Colégios mandarão suas equipes de professores que voltarão com saberes tão exuberantes que os pedagogos locais se contentarão com sua pequenez, sua insignificância e seu desencanto.
Os doutores e pós-doutores de nossos mestrados e doutorados em educação poderão assistir ao evento sem poder de fala, e se pagarem quinhentos reais pelos três dias. Livros serão comprados, desses visitantes, e a tietagem irá medrar por uma Fortaleza que parece não ser cearense. O pior é que lá em um dos contrafortes do colorido folder há a chancela institucional do Sinepe-CE, com o lema "Educar gera mudanças".
Além do Sindicato das Escolas Particulares ainda aparece no prospecto dourado, oferta de condições diferenciadas para quem for do Senai, da Acepeme e Undime-CE, já que essas instituições são citadas como "Apoiadoras". Como diz um amigo professor, teremos um verdadeiro Fortal pedagógico para começar nosso ano letivo.
Esses vinte e dois sábios trarão muitas sabedorias para nós, mas não ficarão sabendo de nossos saberes. Sairão daqui como chegarem. Levarão algumas castanhas dadas por alguns admiradores, uma camiseta com uma jangada desenhada e um chapéu de palha que esquecerão no hotel. Tudo coisas encontráveis nos aeroportos, na Feira de São Cristovão, no Rio, e no Centro de Tradições Nordestinas, em São Paulo.
Não ficarão eles sabendo como se faz educação no Ceará. Não ficarão sabendo porque no IME e no ITA a maior aprovação é dos concorrentes cearenses. Bem que eles gostariam de aprender nossos modos de ensinar.
Precisamos receber aqui estudiosos de fora, fazermos nossos congressos, nossos eventos culturais, mas sempre mostrando também nossos saberes, nossa cultura, nossa cara. O saber não é unilateral. É muito mais uma troca de experiências. O saber é como um alimento. Primeiro preciso auscultar o paladar do meu circunstante ao qual vou dedicar minhas oferendas. Depois saberei o tempero melhor para que os comensais se refestelem sem que haja má digestão. Um congresso é uma troca de saberes, de sabores.
Tenho certeza de que nenhum livro de autor cearense vai estar lá para a venda aos visitantes. Os deles aqui ficarão bem vendidos e bem estudados. É por isso que não há colégio nosso que utilize entre seus livros paradidáticos, alguma coisa produzida no Ceará. Autor cearense é "persona non grata" em escolas do Ceará. Se por ventura algum escritor local for chamado para ministrar palestra nessas escolas, receberá uma camiseta de consolo com propaganda do estabelecimento e quando muito, um obrigado.
Diante de tudo isso a gente procura uma saída e termina por ser chamado de arcaico, conservador e ultrapassado. Até parece que o mundo todo cabe aqui, menos o nosso quintal. Nosso Ceará de caboclo, de Mãe Preta e Pai João só tem porta de entrada. Vivemos uma cultura de mão única onde a palavra de ordem é dar boas vindas a tudo o que não é daqui.
Acontece que de minha parte não irei a esse 11º Congresso Internacional sobre Formação de Professores, a esse 10º Congresso Internacional sobre Dificuldades de Aprendizagens e do Ensino, a esse 2º Seminário de Gestão em Educação e ao 1º Congresso Internacional de Educação Profissional e Tecnológico do Ceará (Sem Cearense). Vou ficar por aqui de frente ao mapa-mundi procurando um local onde posso instalar o meu Ceará.
Todos sabem que gosto muito de Seminário, Congresso, Simpósio, Palestras e todo e qualquer tipo de encontro científico, mais nao consigo entender porque trazer gente de fora se aqui temos gente com bom currículo. Essa educação que ninguém ver é justamente escondida nao sei para que. Vamos reagir Ceará.
Texto de Batista de Lima
Adaptado por Alccy Marthins
Fonte: Diario do Nordeste